Nem alto nem baixo. Para os exportadores, o dólar ideal é o estável. Muito antes de cotações que seriam consideradas "dos sonhos", quem vende para outros países aposta em um câmbio tranquilo, sem grandes variações durante o período entre o pedido e a entrega.
É o que acontece no setor alimentício. O presidente da Associação Brasileira dos Exportadores e Importadores de Bebidas e Alimentos (ABBA), Adilson Carvalhal Junior, explica que, para quem exporta alimentos e bebidas, a estabilidade do dólar é pré-requisito para transações seguras. "É difícil trabalhar pensando em uma cotação ideal, porque dependemos de vários fatores. Ter problemas na safra, por exemplo, influencia diretamente no preço", explica.
Carvalhal diz que os exportadores do setor calculam que o moeda ideal giraria entre R$ 2,10 e R$ 2,20. "Sabemos que abaixo de R$ 1,90 é complicado ter competitividade. Ele também não pode subir muito, porque aí temos aumento de gasolina e outros insumos atrelados ao dólar", diz. Hipóteses à parte, o presidente da ABBA torce por um dólar estável. "A estabilidade é o principal fator, pois é a partir disso que se faz contas a longo prazo. Com um dólar que oscila entre 15% e 20% em dois meses, fica impossível calcular custos. Uma moeda que não oscila certamente garante uma situação confortável para todos", destaca.
No setor calçadista, estabilidade também é sinônimo de segurança. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), a reação apresentada pelo dólar nos últimos meses ainda não repercutiu nos negócios do setor. Até o final do ano, o faturamento deve continuar em queda, principalmente pelo fato de que muitos dos pedidos fechados contavam com a cotação do início do ano, quando a moeda americana permanecia por volta de R$ 1,70. "O setor estima que o ideal seria um câmbio de R$ 2,20. Este valor contribuiria para a recuperação das perdas que os exportadores registram há mais de três anos. A principal razão da queda, ao longo dos anos, foi a defasagem cambial", diz o diretor-executivo da instituição, Heitor Klein. Segundo o empresário, em 2012, a redução continua - o setor registrou queda de 19% no faturamento e de 4,9% no volume das exportações.
"Não há câmbio que agrade a todos", diz especialista
Para os empresários da associação, mais do que uma cotação favorável, é preciso ter um ambiente monetário tranquilo, sem grandes oscilações. Haveria, de acordo com a Abicalçados, dois grandes problemas relacionados às variações bruscas da moeda americana. O primeiro deles é mais conhecido. Quando o dólar cai, os exportadores têm prejuízo, já que calcularam seus custos de produção com base em uma cotação mais alta do que aquela que vão receber posteriormente. O segundo remete às ações dos importadores ao efeito contrário - o dólar após uma desvalorização significativa: quando isso acontece, quem compra costuma pedir para que o preço do produto baixe, pois, com menos dólares, o vendedor já conseguiria ter lucro.
Há quem seja mais cauteloso na hora de apostar em valores ideais. Para o professor do Programa de Pós-graduação em Economia da Unisinos Igor Morais, o que o produtor deve levar em conta é a competitividade em relação ao produto vindo do exterior. "Não existe valor ideal. Quando se mede setorialmente o câmbio, ele reflete diferenciais de custo interno e externo, além das estruturas de mercado", afirma. Morais explica que esses valores variam de acordo com cada setor. "É preciso calcular custos logísticos, trabalhistas e financeiros, por exemplo. A partir disso, surgem as cotações mais favoráveis para cada área. Não existe um câmbio que agrade a todos", diz. O especialista, no entanto, concorda com os produtores em relação à estabilidade. "É um fator de segurança para todas as áreas", acrescenta.
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Postado por: NewsComex - Comércio Exterior e Logística